26 dezembro, 2007

Primeira participação em Exposição Coletiva de Artes Plásticas - Campo Limpo Paulista - SP.

Recorte original de jornal.






Naturalmente, estabeleci nas artes plásticas sem o aspecto formador de cursos superiores.
Bons momentos! Foram quase cinco anos no ateliê de Tao Sigulda – esses anos de contacto com o Grande Mestre foram decisivos, concretizaram minhas intenções de ingressar no universo das artes plásticas; e, de forma prática. Um horizonte de conhecimento técnico abriu em minha vida. Fora essa experiência, estou na qualidade de um autodidata.
Naquela época, Tao Sigulda e sua esposa Dna Tama Sigulda, incentivaram-me a participar de uma Exposição Coletiva de Artes Plásticas em Campo Limpo Paulista-SP. Timidamente participei, porque ainda estava tateando um estilo próprio, observar mais, aprender mais. No que Deus permitiu, “vi” a seriedade do Tao Sigulda, em suas obras. Ele sempre falava: - “Estou comprometido com a história da arte, não posso enganar, ir contra os meus princípios formadores e de responsabilidade, por que no futuro seremos julgados pelo rumo seletivo da própria história da arte”.

Fluiu, a insegurança por ser criterioso nas observações, avaliava não ter alcançado a técnica almejada, não queria ser mais um aventureiro.
Mas, os anos de trabalho, a convivência com um sacerdote das artes, formou tributos a um oportuno convite para dar o primeiro passo – participar, pela primeira vez de uma Exposição Coletiva de Artes Plásticas, ao lado de Antônio Garcia Fernandes, Alice Ditt, Cristel Merten, Elizabeth Bibrack e outros, no Paço Municipal de Campo Limpo Paulista - SP. Após a vernisagem, Dna Tama, falou: -“Você vendeu um quadro”... Foi o primeiro quadro que vendi, desde então tenho trabalhado.


































Link para essa postagem


21 dezembro, 2007

Óleos e solventes


Na pintura, não existe limites para a imaginação. Mas, o problema está na técnica, valer-se do melhor meio para demonstrar integralmente ou conceber de forma distorcida ou parcial a característica de uma imagem, uma figura ou uma idéia. Não podemos nos prender a um processo, não importa o quão expressivo, que possa ser transformado numa formula definitiva e funcional. Mas, pode ser determinado um padrão básico como ponto de partida para as variações. A cada ação decorre a sua exigência – uma carência, importa considerar a melhor forma de representar. Ao pintar, é impossível estabelecer uma proporção fixa de óleo que deva ser acrescentado à tinta. Simplesmente não funciona. Tem que ser estudado a quantidade necessária cada vez que é umedecida a cerda do pincel na tinta e no óleo. Não há combinações ideais de óleo e solvente para acrescentar às tintas. Cada momento em que se dá à pintura, é um episódio a ser avaliado.

O procedimento para industrializar a tinta é simples. O pigmento é triturado, peneirado e aglutinados pela ação de um produto oleoso, que pode ser o óleo de linhaça ou o de papoula. Da mistura deriva-se uma pasta espessa – a tinta em sua forma original para ser comercializada. Essa pasta pigmentada é modificada pelo artista, normalmente, adiciona óleo e solvente em proporção adequada a essa pasta para modificar-lhe a característica básica. Dessa mistura, obtêm-se os mais variados efeitos.

O “médium” – nome que surge desses dois agentes no preparado, a mistura de óleo e solvente em proporções convenientes que se dá maior fluidez às tintas – influenciam não só a espessura da tinta, mas também seu brilho, o tempo de secagem e a facilidade de trabalhá-la sobre o suporte plano.

A combinação meio a meio de óleo e solvente constitui uma mistura equilibrada, boa para se começar. De modo geral, a partir dessa mistura, os artistas mais experientes vão variando as proporções dentro do mesmo trabalho. A técnica conhecida como “gordo sobre o magro”, que aumenta a proporção de óleo a cada sucessiva camada de tinta, esse procedimento é ideal para prevenir as possíveis rachaduras na pintura depois de pronta (fenômeno chamado tecnicamente de “fendilhamento”).

Optar por uma proporção exagerada de solvente tende a enfraquecer o poder aglutinante do óleo. Depois que o trabalho estiver seco, a conseqüência, com certeza, será o fendilhamento da superfície de todo o quadro. Também, é comum aparecerem essas rachaduras quando se aplica “sobre” uma camada com bastante óleo uma camada de tinta excessivamente diluída com solvente. A regra de “gordo sobre o magro” deve prevalecer sempre, opor-se a esse princípio leva quase sempre ao fendilhamento.

Exagerar com o óleo uma pintura, faz sobrelevar mais o amarelecimento meio transparente do óleo. Rico em óleo, pobre em pigmento, certamente, predominará o amarelecimento em toda a pintura. Ao autuar a secagem, através do tempo, é progressivo o escurecimento do trabalho.

Existem diferentes qualidades de óleos, todos produzem acabamento brilhante, mas a resistência ao fendilhamento muda de um para outro. Cada um com característica própria e consistência variável, dos mais fluidos aos mais viscosos. Ainda, é, distinta a cada tipo de óleo, a forma como se apresenta no tempo de secagem da pintura, considerando que suportar ao mesmo tempo a influência química peculiar ao pigmento e, de fatores ambientais, como: sujeiras, umidade, luz, temperatura. Por se tratar de óleo, a quantidade que se aplica tem importante papel: quão intensamente for em excesso, mais longo será o tempo de secagem da pintura.

A escolha deve prevalecer num tipo que não amareleça, nem escureça o seu trabalho com o tempo e apresentar boa flexibilidade para não decorrer o fendilhamento. O tempo de secagem deve ser razoável e uniformidade.

O óleo de linhaça prensado a frio é puro, qualidade de considerável resistência ao amarelecimento e escurece pouco com o tempo.

O óleo de linhaça mais barato, tem um padrão de purificação de baixa qualidade, é mais escuro e contém impurezas que interferem na vibração dos pigmentos, e, afeta a coloração da pintura com o passar do tempo. As tintas brancas e as cores mais claras, trabalhadas, com médium que contem óleo inferior pode ocorrer alteração em questão de meses.

Para tornar mínima a possibilidade de amarelecimento ou escurecimento da pintura, não abusar do óleo.

O aglutinante mais comum é o “óleo de linhaça”, ideal para quem quer começar a pintar. É um óleo intenso, de secagem lenta e uniforme, que permite alterações, correções ou mudanças na composição enquanto úmido, porque, quem está principiando quer resultados quase que imediato, tem pouca paciência de esperar a secagem para trabalhar sobre camadas.

O óleo de linhaça, quando de boa qualidade, produz uma película resistente, com certa flexibilidade, é brilhante e de boa transparência e baixo risco de fendilhamento.

O óleo de linhaça prensado a frio é o mais puro. Também, o mais caro dos óleos de mesma procedência. Em um bom período foi muito usado por ser o melhor tipo disponível com bons resultados. Permanece sendo empregado, mas, por poucos artistas, pois foi ultrapassado pelo de “linhaça purificado”.

O purificado de boa qualidade, é mais barato que o prensado a frio, tornou-se excelente alternativa nas mãos de principiantes e profissionais. A sua viscosidade é baixa e a transparência aproxima do amarelo-claro ao marrom. Quanto mais turvo o óleo maior o grau de impurezas. A consistência mais clara é boa referência para o estado de pureza e, naturalmente, altera menos a pintura com o tempo, mantêm o brilho e cumpre a função aglutinadora com transparência ideal para destacar os objetivos das cores e secam com razoável rapidez. Os mais escuros levam ao amarelecimento rápido da pintura e determinam uma secagem muito lenta.

Outro tipo, o polimerizado (stand oil), é espesso como o mel, e proporciona convenientemente o fato de propiciar fácil deslizamento da tinta. Ao secar, produz uma película uniforme e brilhante, semelhante ao esmalte, e sem marcas de pincel. Além disso, não amarelecem nem escurece tanto a pintura como o purificado. Devido ao alto grau de viscosidade, para abaixar a consistência espessa, deve ser usado maior proporção de solvente (três partes para uma de óleo). Assim misturado, secam em três ou quatro dias, contra dez dias do prensado a frio.

Existe ainda o óleo de linhaça espessado ao sol, é ótimo para os casos em que se exige secagem bem rápida da pintura sem maiores riscos de fendilhamento. Trabalhando sob condições favoráveis, o óleo espessado permite secagem da pintura em três dias. Porém, sua consistência demasiadamente viscosa dificulta seu emprego, necessita de muito solvente, e deve ser utilizado apenas por quem já tenha lidado com óleos menos viscosos.

Hoje em dia, existem no mercado óleos em gel

A linhaça espessada, por ser encorpada, é ideal para misturar à tinta para trabalhar com espátulas. Trabalhar puro com o pincel é dificultoso E possível produzir caseiramente este último tipo:

Exp. 1: Por curiosidade, tentei decantar óleo de linhaça comum, sem ser clareado quimicamente em uma garrafa de vidro transparente ao sol no telhado. Ficou meses exposta ao sol na mesma posição, seguindo a inclinação do telhado permanecia a boca da garrafa para baixo. Esta posição do frasco imaginava ser possível que as impurezas ficassem próximas da rolha para ser retirados, além de espessar, esperava ser possível clarear o óleo, por efeito de uma paciente exposição prolongada aos raios solares e por estar em decantação. O resultado não foi o esperado, fracassei em ambas as intenções, a garrafa era fechada, não dava para circular ar. O processo de secagem do óleo é por oxidação, então a circulação de ar é necessário para espessar. Interessante, o óleo de linha exala um cheiro carácteristico. Se aplicar com pincel esse óleo sobre a madeira; exemplo: uma janela de madeira que não recebeu nenhum tipo de revestimento, untar com o óleo de linhaça, permanecerá, por alguns dias o cheiro até concluir totalmente a penetração nos caixilhos de madeira. Deve acontecer uma reação química entre a madeira e esse óleo vegetal, porque o nosso sentido do olfato percebe a transpiração de substâncias voláteis.

Exp. 2: Coloquei o óleo de linhaça comum numa forma de vidro retangular, cobri-o com um teto de vidro liso, também transparente, deixando uma aba de dez centímetros em media sobrando pelas laterais para proteção de chuva. Em todo o perímetro retangular do teto colei fita adesiva para funcionar como uma pingadeira (um dique para não deixar a água de chuva escorrer para o óleo). No vidro do teto, colei com silicone uma tira de tela de náilon de trama bem fechada (tela para serigrafia), que funcionou como cortina, em todo o perímetro do teto. O vidro do teto não encostava direto na travessa, estava descansando em quatro pontos, formados, por quatro grampos pequenos, de varal, preso nos cantos da travessa, de modo a permitir a circulação do ar. Ficou um vão de tela de aproximadamente 3 cm para proteger o óleo de poeira e outras impurezas. Deixei-o ao sol durante doze semanas. Aleatoriamente, não excedendo três dias, levantava o teto de vidro para agitar com um bastão o liquido dentro do recipiente. O óleo engrossou mas não clareou como eu queria, talvez, o óleo que usei para a experiência não era de boa qualidade. Neste mesmo processo consegui engrossar, também esmalte sintético em cinco dias, porém, tinha que mexer duas vezes por dia para não formar casca. Resultado muito superior ao de colocar cargas para engrossar a tinta (para trabalhos em serigrafias).

O óleo de papoula é claro e de consistência muito leve, bem mais caro que o de linhaça, tem como principal vantagem o fato de que a pintura quase não amarelece com o tempo. Com o uso do óleo de papoula, as cores claras e o branco mantêm-se vivos como no momento em que foram pintados. Além disso, permite ótimo deslizamento da tinta sobre a tela, facilitando a execução do trabalho. O inconveniente - o óleo de papoula puro forma uma película frágil e quebradiça.

O ideal é misturar: uma parte de óleo de papoula com três partes de óleo de linhaça, esta composição oleosa faz prolongar o tempo de secagem da tinta, conseqüentemente, uma combinação, apropriada, para quem quer trabalhar sobre a tinta ainda úmida (técnica chamada “wet into wet”).

Os solventes.

Os solventes são usados puros, para limpar os pincéis, a paleta e o resto do material. Todos são altamente inflamáveis: portanto, deve ser manuseado com todo o cuidado.

O solvente acrescentado à tinta, dilui-a de modo a facilitar o deslizamento sobre a tela, e acelera o processo de secagem.

Os solventes de boa qualidade misturam-se bem às tintas, aos óleos e vernizes e evaporam uniformes e totalmente, sem comprometer as variações de cores e as sobreposições de camadas de tinta.

Se, tem duvida sobre a qualidade de um determinado solvente – pingue algumas gotas do produto num papel branco, ao secar, não deixar marcas ou resíduos no suporte – é de boa qualidade.

A terebintina.

A terebintina, o solvente tradicional dos artistas, continua um produto popular, talvez, apenas por esse motivo (de emprego). É, um destilado dos bálsamos de algumas espécies de pinheiros. Sua vantagem em relação à aguarrás está em que evapora bem mais depressa e o trabalho seca mais rápido. Mantenha-a em recipientes bem fechados, porque, quando exposta ao ar por longos períodos, oxida-se, escurece e engrossa. Em relação ao emprego desse destilado deve ter o seguinte cuidado – quando usado em excesso, tende a reduzir o brilho do corpo tênue de tinta, deixando-o apagado, sem vida e com grande possibilidade de ocorrer o fendilhamento.

Há pessoas alérgicas ao cheiro muito ativo da terebintina, que nelas desencadeia reações diversas, como: dores de cabeça; irritação na pele, nos olhos e enjôos.

Existe uma terebintina destilada do óleo de casca de limão, laranja e tangerina, chamada “terebintina cítrica”. Tem propriedade bem semelhante às da terebintina de pinheiros.

White Spirit

Um tipo de aguarrás de alta pureza – é uma boa alternativa para a terebintina de pinheiro, embora seja um produto relativamente difícil de encontrar no comércio. O “white spirit” tem poder de diluição semelhante ao da terebintina e cheiro mais suave. Além disso, não causa reações alérgicas, pode ser armazenada por tempo indeterminado e é mais barata.

Aspic

Outro solvente interessante é o “aspic”, ou óleo de lavanda, caracterizado por seu delicioso perfume - portanto, uma poção para quem não suporta o cheiro de terebintina e da aguarrás. Sua secagem lenta torna-o ideal para a aplicação de sucessivas camadas sobre a tinta ainda úmida. Sua principal desvantagem é o preço: custa algumas vezes mais que a terebintina.

Valer-se da combinação dos elementos: óleo de linhaça misturado à terebintina ou aguarrás. É o tradicional “meio a meio”, preparado na paleta.

Os diferentes óleos, agregados a um só corpo – possibilita aproveitar as diferentes propriedades adequadas a cada um deles. Manter homogêneo a mistura do início ao fim do trabalho para minimizar os riscos de fendilhamento e amarelecimento.

O acabamento fosco.

Um bom resultado consegue com o preparado Opal = Terebintina + óleo de linhaça polimerizado + cera de abelha. Esta solução seca devagar e deve ser usado em pequena quantidade.

O acabamento vítreo.

Misturar em partes iguais: óleo de linhaça + terebintina + resina copal. Existe no mercado, o preparado – Copal, sua consistência liquida é amarelada. Essa solução assegura o acabamento vítreo. Deve ser usado em pequena quantidade, porque apressa o tempo de secagem de certos pigmentos e tende a tornar a película quebradiça.

Alquídicos.

Profundidade e rapidez de secagem

Os preparados sem bases oleosas – tratam-se dos chamados preparados alquídicos, feitos de uma base resinosa transparente, sintética. É fabricado a partir de óleos vegetais naturais, reconhecidamente da soja, polimerizado através da aplicação de álcool e ácido. O resultado é uma resina que, misturada com um solvente adequado – água raz retificada; terebintina; liquem e óleopasto, não provocam nenhuma perda de vibração e intensidade das cores, adquire a consistência do óleo de linhaça tradicional, pode ser manipulada tranqüilamente por três horas e, com secagem completa apenas num ciclo de vinte e quatro horas após a aplicação. Eles representam à alternativa moderna para os preparados com base oleosa, e têm tido aceitação crescente nestes últimos trinta anos. A resina alquídica foi introduzida no meio artístico, como alternativa à tinta a óleo, por suas possibilidades de ilusão de profundidade, associado à rapidez de secagem que a tinta acrílica oferece. Há vários tipos de preparados alquídicos no mercado, que variam em consistência. Existe, desde os bem ralos, para acabamentos esmaltados, o gel – de uso geral, e pastas viscosas usadas para uma variedade de efeitos especiais, como as tintas grossas para formar relevos sobre os suportes.

Por ter o seu tempo de secagem reduzido, as tintas alquídicas oferecem uma maior possibilidade de pintura em camadas, o que propicia a perfeição da sugestão de profundidade que se campeia no óleo.

O pigmento está diluído na resina e não em óleo de linhaça, a tinta não amarela com facilidade, tendo uma grande permanência nas cores, sem alteração com o tempo nem torna a película quebradiça. Aumentam, a durabilidade das tintas e apressam o tempo de secagem. Com essa particularidade, não é preciso esperar muito para aplicar outra camada de tinta.

Mas saiba: a maioria dos especialistas julga que trabalhos com os alquídicos só devem ser feitos pelo artista já familiarizado com os materiais tradicionais. Lembre-se de que os grandes mestres sempre usaram preparados com base oleosa. Além disso, há quem ache que os alquídicos não têm a mesma textura dos preparados tradicionais.

A circunstância induz o espírito humano a ser acessível ao novo, tentar algo diferente, independente do efeito alcançado. É uma característica do verdadeiro artista, aventurar-se por novos horizontes. No mínimo, com autônoma certeza, irá acrescentar conhecimento e discernimento.



Link para essa postagem


17 outubro, 2007

HOMENAGEM A TAO SIGULDA




De: Justino Leite Filho

TAO SIGULDA

O REALIZADOR DE SONHOS

Minutos antes de começarmos mais um ensaio de teatro, Nego, sentado no palco do Esporte Clube Internacional, falou: “Tem um gênio por perto, mora na Figueira Branca, o nome dele é Tao, Tao Sigulda. Se me aceitasse com aluno!..”.

João Justino - ator e escritor. Nesta época trabalhei com ele, como auxiliar geral, colaborei humildemente em cenografia e, tive o prazer de elaborar e ser aprovado pelo corpo teatral, o cartaz da peça “Esse José Vai P’ra Frente” tempos difíceis da ditadura, tudo passava pelo crivo da censura. As intenções subjetivas da peça (o condicionamento das massas às ideais que não lhes convinham), estratégicamente, foram bem maquiadas por João Justino, em cenas objetivas - cômicas. Os personagens extraiam risos nas representações, incorporavam - opressores e oprimidos. Experiências inesquecíveis de jovens dinâmicos, afrontavam os obstáculos, preocupados com a cultura e o destino do país.

Nego (negGO) é José Roberto Frutuoso, o amigo que confeccionava os cenários para nós e que sonhava ser escultor.

Na semana seguinte (negGO) estava radiante, já estava trabalhando com o senhor Tao, era um aluno ajudante, remunerado para aprender; mesmo assim continuou fazendo nossos cenários, criou um jogo de luz e a cada ensaio contava um pouquinho do universo maravilhoso de seu mestre.

Fui conhecer Tao Sigulda, pessoalmente, só após a inauguração de seu Centro Cultural. (negGO), não estava mais por lá, após estudar e trabalhar por cinco anos com o gênio, quando era considerado por Tao um aluno mestre, casou-se e levou sua arte para Brasília.

Considero-me um “peão” das artes plásticas, naturalmente, constitui- me sem ter passado por qualquer ensino ministrador. O que tenho é o privilégio das orientações do Tao. Transcorreram, alguns, anos de pratica em seu atelie, que compreendia: no térreo a oficina de esculturas, e, no pavimento superior circundado por amplas janelas que integrava o verde e as cores das flores do jardim à sua palheta de cores. Quando, Tao achava conveniente transmitir uma técnica, normalmente dentro do quadro que estava elaborando. Ele me chamava – Nego, sobe aqui! Eu largava o que estava fazendo na oficina e vencia, rápido, os lances da escadaria e punha-me sentado ao lado da tela presa ao cavalete para acompanhar a evolução de um nova experiência. Ainda ofegante pela agilidade da subida eu pensava: oportunidade rara. Um Grande Mestre! Todos que o conheceram confirmam-o. Transbordava talentos e muita sencibilidade ao que propunha a fazer e, ao mesmo tempo pessoa de temperamento ameno, atencioso, observador das coisas simples, venerava a natureza. O seu semblante era de paz, não portava o estigma de um calejado pela guerra, apesar de ter sofrido muito nas guerras no velho continente. A determinação de sua vida era só fazer o bem.
Alternando movimentos sutis e vigorosos, Tao manipulava as cores e comentava: por que tal forma tinha que ser assim, qual intensidade, onde estava o equilíbrio, etc... Eternos momentos em memória.

A convite de Tao e Tama, na abertura de uma vernissage, apresentamos a peça Strandera, com um elenco de aproximadamente trinta e quatro integrantes, a maioria crianças. Naquele mesmo domingo, generosamente, o casal colocou o teatro de arena, construído em homenagem a ela, tendo a marca de seus pés, a nossa disposição, inclusive para ensaios.

O Centro Cultural Tao Sigulda, acolhendo instrumentistas, compositores, atores, escritores, poetas, cantores, bailarinos ou dançarinos, fotógrafos, desenhistas, educadores, artistas plásticos, historiadores, jornalistas, educadores estudantes e interessados; passou a ser o espaço cultural mais admirado, mais freqüentado e o mais fotografado por mim. Tama e Tao me pediam as fotos, queriam compra-las, só que já eram deles por direito.

Foi lá que em 1989, Tao apresentou-me Alice Vilherna. Tinha tanto apreço por essa aluna que tirei várias fotos deles juntos. Dei-lhes quase todas, em especial a que Alice beijava sua mão. Tao disse: “Preferia a foto em que eu beijei a mão dela”.

Tao contava com o sol, contava com os ventos, contava com o que viria do céu. Poucas horas antes da abertura de uma Coletiva de Artes, com o tempo completamente fechado, afirmava: “Na hora não vai chover!” Na abertura, chuva eu nunca presenciei, e se garoava quem se importava?...

No início eu lhe fazia pergunta atrás de pergunta, depois de alguns anos passei a perguntar menos porque ele me encontrava e me presenteava com trechos de sua vida.

Tao foi mandado para a guerra, para não ter que matar preferiu uma filmadora a um fuzil. Filmava as frentes de combate, carregava na cintura um revólver sem balas, quando repreendido alegava esquecimento, era sempre repreendido e dava sempre a mesma desculpa. No ano de 1943 estava no carro de reportagem com o motorista e o fotógrafo, passaram sobre uma mina escondida na neve, o carro voou pelos ares, Tao, sentado atrás, foi atirado a doze metros de distância, caiu sobre uma caixa de munição, fraturou todas as costelas, sofreu uma perfuração nas costas e permaneceu em coma três semanas. O fotógrafo teve o braço amputado e perdeu a vida, o motorista perdeu a razão. Tao, após ter ficado temporariamente paralítico – os movimentos foram retornando aos poucos – foi trabalhar no laboratório fotográfico.

Eu queria que essas riquezas fossem desfrutadas por mais gente, tentava, para ele, uma entrevista num programa de TV em São Paulo. Não dava certo, eu me entristecia, ele sorria e pedia: “Tama, prepare uísque para três”.

Também aprendi teatro com Tao Sigulda porque ele sabia, melhor do que ninguém, criar personagens. Extraia-os até do cemitério de peças refugadas, na Krupp Metalúrgica, o que tinha defeito ele transformava em obra-prima; pesquisavas e retratava “Gerações”, esculpia sonhos e sentimentos, expunha um “Carnaval Cósmico” sem deixar de lado “Stravinski”. Seu “Auto-retrato” é uma perfeição, mas confesso que sempre o vi, tanto quanto, no “Cavaleiro do Sonho”.

Falou-me de sua família, de sua inesquecível mãe, homenageada com um busto, de um filho longe dos olhos e dentro do coração, contou-me de seu pai criando cavalos da raça trakeno e cruzando-os com cavalos selvagens. Chegaram a ter mais de dois mil animais. Em 1921, durante a guerra, foram expulsos da fazenda, que ficava as margens do rio Wolga, sul de Moscou, a cidade mais próxima era Saratow. “A guerra é a coisa mais violenta e mais estúpida que existe”. Concluiu Tama. Tao continuava criando cavalos, só que de aço, pedra, ferro, bronze...

O sabiá-laranjeira que cantava extasiava a alma de Tao, mas todos os seres vivos eram respeitados por ele, que sabia quantas vezes por segundo um determinado colibri batia as asas. Se um escorpião, taturana ou cobra, invadisse seu espaço, não corria risco de morte. Tao não matava. “...não feche a porta, tem uma vespa na dobradiça, também não a espante, deixe-a sair quando quiser”.

Ele sempre foi um presente indescritível e impossível de ser desembrulhado. Numa tarde, Tao disse para minha noiva Alessandra uma frase sublime: “Continue sendo sempre essa pessoa!” Aconselhou-nos no amor: “Troquem sempre um beijo, todos os dias, mesmo quando estiverem brigados. Combinei isso com Tama”.

Certa ocasião me disse: “Se um homem prega um prego, segurando de forma errada o martelo, só ensino o certo se ele quiser aprender”.

Falava de países, das cidades e dos rios que a alimentava, de artes, animais, anatomia, filosofia, e com mais alegria de sua amada-musa-mulher: Tama. “Eu a batizei com champanhe e lhe dei o nome de Tama”...

Conheceu-a num sebo, ela era estudante de artes dramáticas e procurava peças de teatro em livros antigos e usados. Estava abaixada, revirando uma caixa com muitos livretos, percebeu que estava sendo observada, levantou o rosto e deparou com um homem de sorriso resplandecente, cachimbo na mão, que lhe disse:

- Posso ajudar?

- Eu procuro o livro O Vale dos Sonhos, ela respondeu.

- O livro eu não tenho, mas posso te levar até lá.

Ela aceitou o convite. Logo ele a pedia em casamento. Seria um “casamento avulso”.

- Como é isso? Ela perguntou.

- A gente entra na igreja, ajoelha, dá um beijo.

Em meados de 1957, entraram numa igreja vazia, se ajoelharam e quando estavam se beijando o órgão começou a tocar. “Deus nos casou!”, ele afirmou e ela confirmou.

As linhas em vermelho, são meus comentários. Sou eternamente grato ao Grande "Tao Sigulda e Dna Tama Sigulda", pela oportunidade me concedida.

Publicado no Jornal “O PÊNDULO”. De 17 a 23 de Fevereiro de 2006.



Link para essa postagem


09 outubro, 2007

Contestação

<< neggoartesplasticas@gmail.com >>


Link para essa postagem


06 outubro, 2007

Gota Sensual

negGO<<neggoartesplasticas@gmail.com


Link para essa postagem